domingo, 29 de março de 2009

Um domingo qualquer

Um pedaço de sal e suor escorre a boca.
As bocas.
A ilusão da moleza das três da tarde.
Os telefonemas dados, a exclusão, o ignorar.
Fingimos, finjamos, olhares e beijos ultimos.
Eternos talvez.
Um dia acreditaremos.

E sempre falar do mesmo..
Sempre de.. e e..

E há a falta.. de conexão..
.............. de amor..
.............. de razão.

Novos encontros marcados,
beijos dados,
palavras espalhadas pelo vento,
e o tempo, e o espaço.
Perfurando paredes lisas,
duras e (...).

Uma vontede alheia,
uma corrosão alheia a tudo.
E coisas passam, e acontecem,
o mundo gira e giramos nele,
e a cabeça pesa num resto de coração.

Ilusões das três da tarde
de um domingo qualquer,
escondido atrás de memórias 
inexistentes, 
existentes num mundo perfeito.
Um mundo perfeito sonhado.
Sempre falado nos ouvidos surdos.

Ensurdeço ouvidos com um mundo sonhado.
Fico rouco louco e pouco.
E me repito nas mesmas metáforas,
eu sempre o mesmo [infelizmente].

Devo(te)(me) (o) tornar(te)(me) mais óbvio,
tudo deverá ser menos gritante,
tudo sempre deveu ser menos algo.
Os olhos menos olhos,
a boca rouca menos louca,
os pés menos encaixaveis,
encaixotaveis menos encaixaveis.

Se aproxima a hora que não domino,
a hora em que me afogo em futuros,
futuros que nunca existirão, 
a não ser em reticências e elipses.
A hora do final.

terça-feira, 24 de março de 2009

"Não sei ao certo o que há de errado, simplesmente o dia acordou assim meio doente. Meio morimbundo. Meio morto na verdade. As pessoas velam corpos sorridentes. Um corpo triste e sorridente, como todos os corpos desistentes. As pessoas nascem com infinitos interruptores, e dia após dia outra pessoa desliga um. Desliga um. E mais um. Dia após dia. É uma luta que já é perdida. Sinto a loucura a cada interruptor desligado. A paranóia, o desespero, o desassossego. Uma hora todos se apagam, ou já se apagaram. E a vontade é desligada junto. E as pessoas passam a ser apenas companhias indesejaveis, e nada mais pode ser acrescentado. E a única vontade é excluir todas de tudo o que tenha a ver com você. Matá-las todas, não, isso é absurdo, é muita gente, então apenas deixamos de ouvi-las, isso é mais facil. E você ainda vai em festas, abre o messenger, ri de algo que seja de bom tom rir, mas parece que nada mais te encosta. Talvez seja um momento em que você se dá conta, ou fica com a impressão, que tudo já foi dito, feito antes. Nada mais é novo. Você perde a capacidade de se surpreender com algo. A maior alegria e a maior desgraça parece algo que já aconteceu antes. E tudo é ciclico, e sempre tem alguém para repetir a mesma frase, fazer a mesma coisa, calar no mesmo momento, etc... Mas não é uma depressão, você continua se alimentando normalmente, trabalha, estuda, faz suas atividades. É um estado indizivel, de uma estranha e mórbida clareza, de que as coisas são apenas, apenas são. As pessoas apenas são. Os lugares apenas são. A bebida apenas é. O cigarro, o café, os barulhos. Tudo apenas é. E nunca deixa de ser, ou começa a ser outro. E você parece outro, mas é apenas ilusão, você também é apenas o que sempre foi e sempre será. As coisas perdem as cores. Tudo é cinza. Tudo é cinza."

Chico Xavier...