terça-feira, 24 de março de 2009

"Não sei ao certo o que há de errado, simplesmente o dia acordou assim meio doente. Meio morimbundo. Meio morto na verdade. As pessoas velam corpos sorridentes. Um corpo triste e sorridente, como todos os corpos desistentes. As pessoas nascem com infinitos interruptores, e dia após dia outra pessoa desliga um. Desliga um. E mais um. Dia após dia. É uma luta que já é perdida. Sinto a loucura a cada interruptor desligado. A paranóia, o desespero, o desassossego. Uma hora todos se apagam, ou já se apagaram. E a vontade é desligada junto. E as pessoas passam a ser apenas companhias indesejaveis, e nada mais pode ser acrescentado. E a única vontade é excluir todas de tudo o que tenha a ver com você. Matá-las todas, não, isso é absurdo, é muita gente, então apenas deixamos de ouvi-las, isso é mais facil. E você ainda vai em festas, abre o messenger, ri de algo que seja de bom tom rir, mas parece que nada mais te encosta. Talvez seja um momento em que você se dá conta, ou fica com a impressão, que tudo já foi dito, feito antes. Nada mais é novo. Você perde a capacidade de se surpreender com algo. A maior alegria e a maior desgraça parece algo que já aconteceu antes. E tudo é ciclico, e sempre tem alguém para repetir a mesma frase, fazer a mesma coisa, calar no mesmo momento, etc... Mas não é uma depressão, você continua se alimentando normalmente, trabalha, estuda, faz suas atividades. É um estado indizivel, de uma estranha e mórbida clareza, de que as coisas são apenas, apenas são. As pessoas apenas são. Os lugares apenas são. A bebida apenas é. O cigarro, o café, os barulhos. Tudo apenas é. E nunca deixa de ser, ou começa a ser outro. E você parece outro, mas é apenas ilusão, você também é apenas o que sempre foi e sempre será. As coisas perdem as cores. Tudo é cinza. Tudo é cinza."

Chico Xavier...

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