sábado, 29 de março de 2008

Sombra na parede escura, nua e crua. Fumaça. Não fiz patinhos nem cãozinhos. Os olhos não paravam quietos e os ouvidos, bem, esses ouviam atentos sua voz (espaço dedicado a alguma palavra que não existe). Pensamentos. Óbvios pensamentos. Pensamentos são óbvios. Como o pensar é óbvio. Tentativa de telepatia. Tentativa falha? Cadeado no portão do pensamento óbvio e tapa na telepatia. Pedaços mastigados na fumaça fria, não, quente, fumaça quente.. Frio era o vento, fria era a solidão, fria era a noite. (Espaço dedicado a algum fim)

terça-feira, 11 de março de 2008

A essencia está no não conhecer.
A essencia está no conhecer.
No não conhecer o que gosto.
No conhecer o que gosto.
No não conhecer o objeto.
Objeto. Desejo. Objeto de desejo.
Não sei, só sei que penso,
e que não consigo o contrário.
Não consigo o avesso.
Nem o começo.
Do que parece certo.
Do que parece. Certo.
Saudade do que não tenho.
Saudade do que não tive.
Sonhar com o inexplicavel. Nem tento.
Tocar o impalpável, nem sinto.
Sentir o que não devo, nem toco.
No assunto. Mesmo sem sair dele.
Mesmo mergulhado nele.
Mesmo estando nele.
Mesmo ouvindo ele.
Mesmo tremendo ele.
Nem ouço. Nem nego. Nem afirmo.
Tento, algo estranho.
Faço coisas estranhas, falo.
Sem consequência, esperando.

(Sem final)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Joãozinho

Joãozinho tinha 10 anos.
A professora pergunta ao Joãozinho:
- Quantos ovos uma galinha bota por dia?
- Não sei, professora. E com ironia ela diz:
- Te Peguei!
Joãozinho também faz uma pergunta.
- Professora, quantas tetas tem uma porca?
- Não sei!
- Viu! Você me pega pelos ovos, eu te pego pelas tetas!
Outro dia, ao entrar na sala de aula, a professora vê um pênis desenhado no quadro. Sem perder a compostura, imediatamente ela apaga o desenho e começa a aula. No dia seguinte, o mesmo desenho, só que ainda maior. Ela torna a apagá-lo e não faz nenhum comentário. No outro dia, o desenho já ocupa quase o quadro inteiro e por baixo ela lê a seguinte frase: "Quanto mais você esfrega, mais ele cresce!"
Já irritada com os alunos, a professora lançou um desafio.
- Aquele que se julgar burro, faça o favor de ficar de pé.
Todo mundo continuou sentado. Alguns minutos depois, Joãozinho se levanta.
- Quer dizer que você se julga burro? - perguntou a professora, indignada.
- Bem, para dizer a verdade, não! Mas fiquei com pena de ver a senhora aí, em pé, sozinha!
Mas Joãozinho, como todo mundo, cresceu, perdeu a virgindade com a professora, repetiu o primeiro colegial, fez dois anos de cursinho, passou em engenharia no vestibular, reprovou duas vezes em cálculo, tomou glicose quatro vezes, engravidou Mariazinha de João Filho, foi jubilado por trote violento, casou-se com Mariazinha, começou a trabalhar na mercearia do sogro, brigou com o cunhado, matou o cunhado, foi preso, enrabado, espancado, evangelizado, solto aos 33, ungido pastor aos 37, culto de domingo às 19h, com João Filho comandando o louvor nos teclados. Ah, e não se esqueçam do estudo bíblico de terça-feira, porque esta semana será na casa do Robson. Aliás, Dona Pereira vai fazer uns salgadinhos, então cada família pode levar um refrigerante para a confraternização depois. Que a Paz do Senhor esteja convosco, todos digam: Amém!

terça-feira, 4 de março de 2008

NUM OLHAR GAROTA

Voe garota rebelde,
divine Baco,
aumente teu som
as algemas estão em cacos
meus loucos cotovelos
pelo balcão da vida
esperam refeição imortal,
minhas malas estão prontas
minhas bagunças
arrumam meu medo
entre a garota anormal
que meus olhos risados
porque-fazem.

Corro salto encravado
encarando a lacuna.

Em alerta fraterno
no preciso romper
do acumulo breu
de suas palavras
tateando a espera
ao que não deve tardar.

VESTIDO DE XITA.
(Murilo Benzatti Moro)

A nega vem dançar comigo de saia rodada,
florida, rasgada.
A nega é feita de xita, desfiada, mole, familiarizada.
A rosa no cabelo ela catou na cova da mãe defunta, assassinada.

A nega não tem pudor, não fala a minha língua
então acha que a linguagem do corpo não fala, só dança.
Não usa sapato porque dói e a sola do pé já é preta,
tão preta que a nega nem sente as pedrinhas de ponta de lança.

A nega desce o pelô todo santo dia, agradece,
curva-se aqui, cata uma moeda ali.
E ela acha bonito ser preta no meio da gente branca.
Ela acha bonito ser descalça no meio da gente vestida.
Ela acha o vestido de xita perfeito pra dança.

A nega nem sabe o que é anca, mas sabe usar desde pequena.
Rezar ela também não sabe, só sabe que precisa.
Precisa agradecer todo dia o senhor por ser preta,
porque preto sem fé, ai já é desgraça demais.
AMOR CONCRETO.
(Murilo Benzatti Moro)

Outro dia encontrei o Amor, andando por ai pela rua.
Não era o que eu esperava que pudesse ser. Nem de longe.
Não tinha asas, nem arco, nem flecha.
Não tinha nem estatura para ser Amor.

Em vez de cabelo enrroladinho e nuvem fofa, um pirulito que ele lambia displicentemente.
E no rosto aquela espressão blasé de autoridade superior.

Tocou de roda em volta de mim gritando coisas sem sentido.
Apontava pra lá, outras vezes pra cá. Tapava meus olhos, um de cada vez.
Puxava minha mão, me fazia tocar nos outros.
Mexia meus lábios com cordinhas invisíveis.

Controlava cada passo, cada pensamento e fazia escorrer suor por lugares estranhos.
Brotava sensações em lugares errados.
Levava-me do topo ao chão em dois segundose sussurava que tudo ia acabar bem.

Depois corria com um sorriso no rosto.
Corria o garoto Amor, no auge dos seus oito anos de travessuras.
Um pirulito numa mão, um coração roubado na outra.