domingo, 9 de novembro de 2008


Às vezes,
na barriga da gente
rola um frio.

E, às vezes,
esse frio
confunde a cabeça.

E a cabeça
faz os pés
sairem do chão.

E, cara...
isso é foda.
Às vezes, é foda mesmo...

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Amante telepático

Vislumbro o que a névoa esconde.
A névoa de suas palavras.
Tenho medo.
Imagino futuros de massinha.
Papel. E barro.

Tateio em corpos mortos,
seu corpo de vidro.
Tateio em outras bocas,
sua boca de vidro.
E beijo o asfalto
com a exatidão do vinho e do cigarro.
Sangro na terra e recebo um abraço
[que deveria ser seu].
O sangue molha o ar e o mundo.

Talvez você respire meu sangue nos seus suspiros
e sinta meu sangue quando encostar a terra.

Olho a estrela que imagino que você olha,
te toco, tateando seu labirinto.
Suas pedras machucam meus pés.
Minha cara enrubrece com seu soco mental.
Tranco-me em você.
Sou expulso por seus sorrisos distantes.
Me banho em fluidos meus
limpando as feridas que seus "talvez" me causam.
Respiro cansado do ar da noite
e me farto de um gozo triste.
De uma lágrima, que numa outra dimensão,
em que sou feliz com você,
não existe ou é quente.

Lembro um passado feliz que não tive,
em que uma mão que não existe me tocava apaixonado,
em que olhos verdes que não existem me tocava apaixonado,
num simples beijo de borboleta.

Estendo a mão ao meu Eu-feliz,
ele se esvai na realidade pontiaguda, cortante, sufocante e dolorida.
Fecho os olhos numa desistencia necessária.
Cansado,
morro nos braços eternos de um "sim" que nunca tive.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Desprezo e existência. Desprezo existência. Despreze existência. Os limites não são claros e o silêncio dói demais. O silêncio que não é silêncio, antes calasse meu pensamento. Que no silêncio grita. Seu nome. Que no silêncio some, se esvai em água de torneira, sal grosso e dor de olho. No pós olho, vermelho. Dor no pescoço. Preguiça na lingua. Falsa risada e repetição de musica. Mi. Nu. Tos. E o cachorro morde o rabo e fica dando voltas em si mesmo. Conversa fiada e espera das luzes piscantes. Que piscam nos lugares errados. Conversa fiada. A partir de um ponto me perdi do caminho e comecei a cuspir fogo, e a me queimar com o que queimava. Brasa no céu da boca. Reticências e coisas que não importam a ninguém.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Está no meu silêncio,
na solidão do meu toque,
na minha respiração imperceptivel,
nos movimentos repetidos,
nos pensamentos repetidos.
Ciclico. Não há verdade fora da roda.
E não há verdade na roda.
Simplesmente não há verdade.
Pare.

Entrou arrombando a porta,
quebrando meus sintagmas e paradigmas,
me deixando afonico, torto e quebrado,
Lambendo meus vazios e sugando até me impludir.
Implodo em pedaços meio rosa meio preto,
solto gritos de dor e sua mão.
Solto sua mão.

Você invade e arromba
e vai embora meio expulso,
meio querido, meio amor.
Meia verdade, meio consolo.
Meio existência, meio éter.
Meia presença non grata no recinto.

O salão de festas é fechado para reformas,
pelas reformas.
As vozes se afastam, diminuem e somem.
E ficamos brincando de inventar a roda,
de inventar verdades.
Também preciso de boas mentiras.
Também respiro o mesmo ar viciado.
Pequenos direitos que não sei cobrar.

Nós nem existimos mesmo..
No salão dos cérebros em vidro
nós ficamos em prateleiras diferentes,
sangrando em meio básico e
pensando ácido.
Sem nada físico, sem nada mental,
sem nada... Nem existimos...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

220 taps por minuto

Estranha fome. De ossos.
Algo infla, os olhos, globulos girantes.
Do jeito que se encontram só se podem chamar glóbulos.
Inquietos. A sala está cheia e fria.
E todos olham para frente.
Olham mas não vêem.
Vem mas não vêem.
Entre papéis e móveis duros a vida dança em algum lugar.
Escondida.
"Você quer que a vida te foda né?"
"A vida não sabe foder gostoso."
Ai que desnecessário.
Você malbarata a nossa conversa.

Enfim. Estava desaprendendo coisas,
desconcentrado em suas imperfeições.
Procurando uma espécie de... Bem,
pode soar clichê, mas a palavra é sentido,
quando...

Nada aconteceu. Como de costume..
Estou aqui te lendo e esperando o meu "Bom dia".
...
Esperando o meu "Bom dia".
ESPERANDO O MEU "BOM DIA" (grito).

Aumento a vida da sala para 20º.
Visto roupas verdes e espero um sinal.
Plaft.. não isto não é um sinal.
Espero outro
Enquanto ouço o Greatest Hits do amor de alguém..

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Quer um bombom? Come um...
Esse tem daquelas frasesinhas de amor que você tanto evita..
Elogios não são para todos.. Tem razão.
E eu não. Já os comi demais. Minhas mãos e bocas mergulham em frases.
Em fases. Frases indigestas. Fases indigestas.

Não é só a troca de olhares, mas o olhar o mesmo ponto..(Frase do bombom)

Não há olhares, hahaha, do que estou falando? Tonto.
Poderia haver. Mas não há.
Há uma conversa truncada como esse poema.
E bombons espalhados nas frestras dos meus dentes amarelos.
Marrons e com pedacinhos de avelã...

Cega, surda e muda é a nossa conversa.
E me irrita o que ouço sem ouvir..
E me irrita saber de seus defeitos sem os ter..
Saber me irrita, o saber teórico, e vc é empirismo puro.

E vampirismo puro também.
Sempre quis sangue em taças e risadas no pó.
Sempre quis o pra sempre, a morte e só.
O amor, mordidas mortais e quase morte.
Mas..


Sempre querer dos outros.
Sempre quis dos outros.
Sempre confirmo coisas.
Sempre.

Queria estar errado nesses assuntos as vezes.
E realmente ser cego.
E realmente ser surdo.
Mudo e..
de novo puro.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sobre como Quintana destruiu minha vida.

RIMA
(Murilo Benzatti Moro)

Quintana rima tão bem meu bem, deverias ler.
Quintana é assim Quintana, nada demais.
Não, não! Quintana é cotidiano, é isso.
Todos o dizem cotidiano então porque deveria eu não o fazer?

Esquece Quintana amor, volta pra cama.
Quintana revira na cova agora, e eu quero sexo.
Deixa Quintana, deixa.
O velho nem lê o que escreve, aposto.

Não diga assim meu bem.
Tratá-lo de velho! Ai já é demais

Questão de gosto.
Sexo? Agora? Não quero mais.
Fica ai com teu Quintana, trepa com ele, bêm.
Faz ele gozar com rimas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sem titulo, sem começo e sem final... Como sempre...

Meus sentimentos tontos,
meus sentimentos tortos,
meus sentimentos ininteligiveis.
Vazio. Inexplicavel vazio.
Vário. Vazio vário. Vazio vário do passa-tempo,
do caça-palavras. Caço palavras.
Suas palavras, essas, palavras que não escuto.
Só vejo. Só vejo suas palavras,
sinto que apenas verei,
sinto muito.
Queria falar de toques. De truques.
Dos toques e choques que deve(ria)m se formar.
Ou só queria falar. Me embolar nas palavras,
me embolar nos seus ouvidos,
nos seus três mamilos.(ohh..)
Encontrar minhas mãos perdidas,
nas suas mãos perdidas,
sua pele perdida. Fundida. Fundir.
Ou eu só sei me repetir.
E me enfiar num vácuo,
eterno, imutável, estático,
sem passos. Funciono na contra-mão,
encontrando pessoas partindo,
e conhecendo conhecidos.
(Qualquer é muita, mas muita coisa.
Muita coisa cabe em qualquer.)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Saudades...

... de querer ser astronauta.
... de querer viajar no tempo para ver os dinossauros.
... do medo do escuro.
... do medo do caminhão de veneno da dengue.
... de acreditar que tenho poderes ocultos.
... de achar que tudo é possível.
... de achar que as pessoas vão viver para sempre.
... de não ter dor de cabeça.
... de não ter saudades.

sábado, 29 de março de 2008

Sombra na parede escura, nua e crua. Fumaça. Não fiz patinhos nem cãozinhos. Os olhos não paravam quietos e os ouvidos, bem, esses ouviam atentos sua voz (espaço dedicado a alguma palavra que não existe). Pensamentos. Óbvios pensamentos. Pensamentos são óbvios. Como o pensar é óbvio. Tentativa de telepatia. Tentativa falha? Cadeado no portão do pensamento óbvio e tapa na telepatia. Pedaços mastigados na fumaça fria, não, quente, fumaça quente.. Frio era o vento, fria era a solidão, fria era a noite. (Espaço dedicado a algum fim)

terça-feira, 11 de março de 2008

A essencia está no não conhecer.
A essencia está no conhecer.
No não conhecer o que gosto.
No conhecer o que gosto.
No não conhecer o objeto.
Objeto. Desejo. Objeto de desejo.
Não sei, só sei que penso,
e que não consigo o contrário.
Não consigo o avesso.
Nem o começo.
Do que parece certo.
Do que parece. Certo.
Saudade do que não tenho.
Saudade do que não tive.
Sonhar com o inexplicavel. Nem tento.
Tocar o impalpável, nem sinto.
Sentir o que não devo, nem toco.
No assunto. Mesmo sem sair dele.
Mesmo mergulhado nele.
Mesmo estando nele.
Mesmo ouvindo ele.
Mesmo tremendo ele.
Nem ouço. Nem nego. Nem afirmo.
Tento, algo estranho.
Faço coisas estranhas, falo.
Sem consequência, esperando.

(Sem final)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Joãozinho

Joãozinho tinha 10 anos.
A professora pergunta ao Joãozinho:
- Quantos ovos uma galinha bota por dia?
- Não sei, professora. E com ironia ela diz:
- Te Peguei!
Joãozinho também faz uma pergunta.
- Professora, quantas tetas tem uma porca?
- Não sei!
- Viu! Você me pega pelos ovos, eu te pego pelas tetas!
Outro dia, ao entrar na sala de aula, a professora vê um pênis desenhado no quadro. Sem perder a compostura, imediatamente ela apaga o desenho e começa a aula. No dia seguinte, o mesmo desenho, só que ainda maior. Ela torna a apagá-lo e não faz nenhum comentário. No outro dia, o desenho já ocupa quase o quadro inteiro e por baixo ela lê a seguinte frase: "Quanto mais você esfrega, mais ele cresce!"
Já irritada com os alunos, a professora lançou um desafio.
- Aquele que se julgar burro, faça o favor de ficar de pé.
Todo mundo continuou sentado. Alguns minutos depois, Joãozinho se levanta.
- Quer dizer que você se julga burro? - perguntou a professora, indignada.
- Bem, para dizer a verdade, não! Mas fiquei com pena de ver a senhora aí, em pé, sozinha!
Mas Joãozinho, como todo mundo, cresceu, perdeu a virgindade com a professora, repetiu o primeiro colegial, fez dois anos de cursinho, passou em engenharia no vestibular, reprovou duas vezes em cálculo, tomou glicose quatro vezes, engravidou Mariazinha de João Filho, foi jubilado por trote violento, casou-se com Mariazinha, começou a trabalhar na mercearia do sogro, brigou com o cunhado, matou o cunhado, foi preso, enrabado, espancado, evangelizado, solto aos 33, ungido pastor aos 37, culto de domingo às 19h, com João Filho comandando o louvor nos teclados. Ah, e não se esqueçam do estudo bíblico de terça-feira, porque esta semana será na casa do Robson. Aliás, Dona Pereira vai fazer uns salgadinhos, então cada família pode levar um refrigerante para a confraternização depois. Que a Paz do Senhor esteja convosco, todos digam: Amém!

terça-feira, 4 de março de 2008

NUM OLHAR GAROTA

Voe garota rebelde,
divine Baco,
aumente teu som
as algemas estão em cacos
meus loucos cotovelos
pelo balcão da vida
esperam refeição imortal,
minhas malas estão prontas
minhas bagunças
arrumam meu medo
entre a garota anormal
que meus olhos risados
porque-fazem.

Corro salto encravado
encarando a lacuna.

Em alerta fraterno
no preciso romper
do acumulo breu
de suas palavras
tateando a espera
ao que não deve tardar.

VESTIDO DE XITA.
(Murilo Benzatti Moro)

A nega vem dançar comigo de saia rodada,
florida, rasgada.
A nega é feita de xita, desfiada, mole, familiarizada.
A rosa no cabelo ela catou na cova da mãe defunta, assassinada.

A nega não tem pudor, não fala a minha língua
então acha que a linguagem do corpo não fala, só dança.
Não usa sapato porque dói e a sola do pé já é preta,
tão preta que a nega nem sente as pedrinhas de ponta de lança.

A nega desce o pelô todo santo dia, agradece,
curva-se aqui, cata uma moeda ali.
E ela acha bonito ser preta no meio da gente branca.
Ela acha bonito ser descalça no meio da gente vestida.
Ela acha o vestido de xita perfeito pra dança.

A nega nem sabe o que é anca, mas sabe usar desde pequena.
Rezar ela também não sabe, só sabe que precisa.
Precisa agradecer todo dia o senhor por ser preta,
porque preto sem fé, ai já é desgraça demais.
AMOR CONCRETO.
(Murilo Benzatti Moro)

Outro dia encontrei o Amor, andando por ai pela rua.
Não era o que eu esperava que pudesse ser. Nem de longe.
Não tinha asas, nem arco, nem flecha.
Não tinha nem estatura para ser Amor.

Em vez de cabelo enrroladinho e nuvem fofa, um pirulito que ele lambia displicentemente.
E no rosto aquela espressão blasé de autoridade superior.

Tocou de roda em volta de mim gritando coisas sem sentido.
Apontava pra lá, outras vezes pra cá. Tapava meus olhos, um de cada vez.
Puxava minha mão, me fazia tocar nos outros.
Mexia meus lábios com cordinhas invisíveis.

Controlava cada passo, cada pensamento e fazia escorrer suor por lugares estranhos.
Brotava sensações em lugares errados.
Levava-me do topo ao chão em dois segundose sussurava que tudo ia acabar bem.

Depois corria com um sorriso no rosto.
Corria o garoto Amor, no auge dos seus oito anos de travessuras.
Um pirulito numa mão, um coração roubado na outra.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O meio contra Alininha.

Alininha, filha de classe média alta, branquinha, bonitinha, toda sorrisos e covinhas, a princesinha da mamãe.

Quinze anos da mais bela pureza de tabús e conceitos que enfiaram na cabeça dela.

Não bebia, não fumava e achava que sexo era sujo, só servia pra reprodução.

Sabia direitinho pra que funcionava uma mitocôndria, até já tinha visto uma, mas, de pinto não entendia nada, nunca tinha visto um, nem quando o primo José quis brincar de médico.

Alininha que não tinha tudo o que queria, mas tinha tudo o que precisava, sempre dizia o pai.

Uma mãe, um pai e um apelido no diminutivo, que mais poderia querer?

Um colégio bom?

Já tinha.

Ursinhos de pelúcia?

Já tinha.

Empregada todos os dias?

Já tinha.

Já tinha.

Já tinha.

Já tinha...

Ia todo domingo na missa com a mãe e ouvia sem um pio.

Sabia as orações de cor e nunca nem pensava em dormir.

Acreditava que Jesus era um homem bom até pisarem no seu calo e que quando isso acontecia um raio carbonizaria o herege.

Alininha que só não tinha a boca costurada pra justificar o pouco que falava. Conselho de mãe. "O burro fala, o sábio cala".

Adorava ditados populares, tinha até um caderninho. Que menininha! Que pureza, diziam.

Mas não era o bastante pra Alininha...

Alininha agora tem 18 anos. Mora sozinha, faz programa pra sustentar o filho de 2 anos e mudou o nome para Samantha por ordem do pai que não quer mais nenhum vínculo com ela.

Que desperdício, diziam. Tinha tudo o que queria, até um apelido no diminutivo, jogou tudo fora, caiu na vida.

Caiu na vida? Que nada, aprendeu a viver. Conselho do Drummond: "Vai Alininha, vai ser gauche na vida".