terça-feira, 4 de março de 2008

VESTIDO DE XITA.
(Murilo Benzatti Moro)

A nega vem dançar comigo de saia rodada,
florida, rasgada.
A nega é feita de xita, desfiada, mole, familiarizada.
A rosa no cabelo ela catou na cova da mãe defunta, assassinada.

A nega não tem pudor, não fala a minha língua
então acha que a linguagem do corpo não fala, só dança.
Não usa sapato porque dói e a sola do pé já é preta,
tão preta que a nega nem sente as pedrinhas de ponta de lança.

A nega desce o pelô todo santo dia, agradece,
curva-se aqui, cata uma moeda ali.
E ela acha bonito ser preta no meio da gente branca.
Ela acha bonito ser descalça no meio da gente vestida.
Ela acha o vestido de xita perfeito pra dança.

A nega nem sabe o que é anca, mas sabe usar desde pequena.
Rezar ela também não sabe, só sabe que precisa.
Precisa agradecer todo dia o senhor por ser preta,
porque preto sem fé, ai já é desgraça demais.

Um comentário:

Daniel Nérso disse...

Três foda!

"A rosa no cabelo ela catou na cova da mãe defunta, assassinada."

"Rezar ela também não sabe, só sabe que precisa."